Os embalos das noites da New York City ganham registro
Dava um roteiro de filme: o cara sai de uma cidade no interior do Rio Grande do Sul, vai parar nos Estados Unidos, vira soldado na Guerra do Vietnã, é ferido em combate, volta condecorado e, em Nova York, resolve levar para o Rio de Janeiro a novidade das discotecas. Ao pioneirismo do gaúcho Carlos Wattimo, 70, é que a cidade deve a sua entrada precoce nos embalos de sábado à noite, eis o que conta o livro “A primeira e única New York City: a discoteca que iniciou a era disco no Brasil”, de Mario Abbade (crítico de cinema de O GLOBO) e Celso Rodrigues Ferreira Junior, a ser lançado mês que vem (a noite de autógrafos está marcada para o dia 16, na Livraria da Travessa de Ipanema).
Aberta ao público em 21 de maio de 1976, no imóvel da Rua Visconde de Pirajá, 22 (onde antes ficava a boate Preto 22, do apresentador de TV Flavio Cavalcanti), a New York City Discotheque chegou causando comoção, com sua pista comandada pelo DJ carioca Ricardo Lamounier — o sujeito que, ainda em Nova York, não só deu a Wattimo a ideia de abrir a casa, como ainda o nome (ele dizia: “Se em NY havia uma boate chamada Ipanema, por que não haver no Rio uma New York City Discotheque?”).
— O que o Rio tinha até então eram boates, não discotecas — explica Mario Abbade, 50, que em 1979 chegou a ir a algumas matinês da casa. — A New York City foi a primeira a copiar as discotecas de Nova York, em que a estrela era o DJ, com um sistema de luz impressionante e um som ensurdecedor. O Ricardo entrava em cena rasgando papel laminado e vestindo um macacão de lamê, como se estivesse num palco. E ele trouxe para o Rio as técnicas de mixagem dos DJs americanos.
Sem barração na porta (pagando ingresso e entrando na fila, qualquer pessoa maior de idade podia frequentá-la), a New York City Discotheque ficou lotada por noites a fio, atraiu celebridades, rendeu uma série de LPs (o primeiro vendeu mais de 50 mil cópias), inaugurou uma era de democratização da noite carioca e inspirou a abertura de outras casas (como a Papagaios, na Lagoa, do empresário Ricardo Amaral). Mas não deixou uma memória farta e gloriosa como a de outras discotecas que surgiram posteriormente, especialmente a Frenetic Dancing Days, que o produtor e jornalista Nelson Motta abriu na Gávea.
— Comecei a pesquisar sobre a New York City Discotheque quando organizei uma mostra sobre a era disco no cinema — diz Mario Abbade. — Ao entrevistar algumas pessoas, vi que a magnitude da casa ia bem além da mostra. Ela estava virando menos do que uma nota de rodapé da história, não era citada em livros e havia uma dificuldade muito grande de encontrar informações nos jornais.
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