Quatro clássicos da fase experimental
da carreira do músico brasileiro serão lançados
pela primeira vez nos Estados Unidos
Filho de um advogado, Valle começou a estudar piano clássico aos seis anos, contra a vontade do pai. Em seus primeiros lançamentos, tocava bossa nova tradicional. Depois, resolveu experimentar outros gêneros. Gravou diversas trilhas sonoras para filmes e novelas. Depois de lançar quase um disco por ano entre 1963 e 1974, sempre driblando a censura, enfrentou problemas psicológicos que afetaram sua voz. Viajou aos Estados Unidos em 1975 e só voltou a gravar cinco anos depois.
Os quatro LPs relançados pela Light in the Attic fazem parte da fase mais interessante da carreira de Valle, quando o cantor deixou o violão de lado e passou a escrever canções pop influenciadas pelo rock psicodélico americano. Marcos Valle e Garra, os dois primeiros, chegam no dia 9 de janeiro. No dia 6 de fevereiro, serão lançados Vento sul e Previsão do tempo.
Marcos Valle, de 1970, o primeiro da leva, é considerado um marco na carreira do músico. É um trabalho mais bem acabado que o LP anterior, Mustang cor de sangue, de 1969, o primeiro de sua fase experimental. Ele mostra o talento de Valle para compor grandes canções pop. Seu irmão, Paulo Sérgio Valle, escreveu algumas letras, como a ótima "Quarentão simpático", um dos seus clássicos.
Garra, ao lado de Previsão do tempo, é um dos maiores clássicos de Marcos Valle. O crítico John Bush, do site Allmusic, diz que "Garra é, talvez, o melhor disco de pop brasileiro de todos os tempos". As composições, inclassificáveis até para Valle, misturavam samba, bossa nova, rock psicodélico e pop. "Mais de 30", a segunda faixa, é uma das melhores de sua carreira. Uma melodia simples, com ecos de sua fase bossa nova, serve de base para a letra de seu irmão, Paulo Sérgio, que dá vários motivos para que uma pessoa não confie em ninguém com mais de 30 anos. Outra canção famosa é "Black is beautiful", que prega a igualdade racial.
Em Vento sul, de 1972, Valle é acompanhado pela banda O Terço, que ficou famosa nos anos 1970 por seus discos de rock progressivo. Para a gravação do LP, o músico alugou a modesta casa de um pescador em Búzios. Vento sul é mais experimental que Garra, com Valle testando diferentes arranjos, harmonias e ritmos, tentando fazer algo parecido com os artistas americanos como Brian Wilson, dos Beach Boys. Embora seja um grande disco, parece que Valle não sabia direito qual direção musical ele queria seguir.
A experimentação de Vento sul aparece amadurecida em Previsão do tempo, de 1973. Sem a atmosfera etérea do álbum anterior, o LP é mais conciso e com grande influência do funk, graças à contribuição do trio Azymuth, que gravou diversos discos que misturavam jazz e funk e fez mais sucesso nos Estados Unidos e na Inglaterra do que no Brasil. Neste álbum, Valle conseguiu reunir diversos elementos musicais, como o funk, o rock e a tradição da bossa nova, em uma fórmula que influencia músicos de MPB até hoje.
Relançamento em vinil
Os discos foram prensados em LPs de 180 gramas e acompanham um livreto com informações sobre o álbum, entrevistas com Valle e letras em português e inglês. Até os selos originais da Odeon (uma subsidiária da EMI) foram reproduzidos. A gravadora também prensou 150 cópias de cada LP em cores diferentes: Marcos Valle em vinil laranja, Garra em vinil dourado, Vento sul em vinil azul e Previsão do tempo em vinil transparente.
O selo independente Light in the Attic, fundado em 2002 em Seattle, Washington, tem feito um trabalho incrível de relançamentos de clássicos em vinil e CD. Vale a pena fuçar o catálogo deles. Entre as preciosidades estão Black Monk Time, dos Monks, LP que teve um grande impacto no desenvolvimento do krautrock na Alemanha, os dois discos do cantor Rodriguez, Cold Fact e Coming from reality, e o clássico Histoire de Melody Nelson, do compositor francês Serge Gainsbourg.
Fonte: ANDRÉ SOLLITTO
Um comentário:
Oi, achei esse blog enquanto procurava sobre o Marcos Valle.
Muito bacana a postagem!
Abraço,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br
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