RIO - Sinal de alerta nas pistas. DJs que tocam
sets pré-mixados e os “DJs-celebridades” — famosos que “atacam de DJ” —
estão tirando o sono, a moral e (sobretudo) os cachês dos DJs
profissionais. A grita já toma conta de vários perfis no Facebook e
adquire ares de manifesto em defesa da arte do DJ, que, segundo alguns,
já está em risco.
Internacionalmente, os questionamentos sobre as habilidades de um “disc-jockey” esquentaram após as declarações do DJ superstar canadense Deadmou5, que há um mês publicou em seu blog um post com o título “Todos nós apertamos o play”. No texto, depois de afirmar ter consciência de que seria odiado pela classe ao “revelar um segredo”, solta a bomba: “Todos tocamos sets com trechos pré-mixados.” Logo, as declarações repercutiram em blogs, sites e revistas especializadas, em proporções planetárias, dirigindo palavras pouco amigáveis ao “rato”.
Pois aqui as coisas também não estão calmas. Causam desconforto aos profissionais os DJs iniciantes que, considerados “celebridades”, cobram cachês de astros. Em julho, por exemplo, o DJ Olin Batista, filho do milionário Eike Batista, com menos de um ano de carreira, levou R$ 12 mil (valor de top) para tocar na boate Tamboatá, em Itaipava, como noticiado na coluna Gente Boa.
— Levamos quase 20 anos construindo uma cena eletrônica. Suamos para conseguir músicas, equipamentos certos, treinamento e até para criar ídolos genuinamente brasileiros — diz o DJ Memê, um dos mais bem-sucedidos do país e também um dos principais críticos da invasão dos “DJs de ocasião”. Ou, como apelidados nas redes sociais, os “DJs-fake”.
O fenômeno parece mais frequente no interior do país, em que a simples menção de um nome famoso atrai público. Mas, mesmo em pistas em que a cultura club é exercida como antigamente, as tais celebridades já dão as caras. É o caso da apresentadora de TV Pietra Príncipe, convidada para tocar no Fosfobox, ontem.
— Não acho que DJs-celebridades tomem lugar de profissionais — argumenta Cabbet Araujo, sócio do Fosfobox. — O que existe é uma nova geração que não está muito interessada no conceito musical de um ou outro DJ. Os tempos mudaram.
Um dos primeiros sintomas da mudança foi há quatro anos, quando nasceu a noite I Love Pop, chefiada pelo stylist (e DJ) José Camarano e pela produtora (e DJ) Suzana Trajano. Só de ouvir a expressão “DJ-fake”, Camarano, um inconteste frequentador das melhores pistas do país, reage:
— Ouço essa reclamação desde os tempos do iPod no Dama de Ferro, em 2006. Achei que o assunto estivesse resolvido, porque no Rio há lugares como a Comuna, onde só tocam DJs profissionais, além de noites novas, como a D-Date, no 00. Há espaço para todos.
Para o DJ e produtor Leo Janeiro, do trio Ask2Quit, fakes só têm espaço nas pistas de som mais comercial.
— O problema é que convidar famosos deixou de ser uma brincadeira, e eles começaram a se vender como profissionais — diz. Ficou fácil juntar “DJ” ao nome e ganhar com isso.
A facilidade das novas tecnologias também é apontada como predadora. Hoje descrito pela sigla EDM (electronic dance music), o som dos DJs contemporâneos tem à frente ídolos como Deadmou5 e o sueco Sebastian Ingrosso, que também admitiu ter tocado trechos pré-mixados em seus sets. Para alongar a lista de suspeitos, pense em todo DJ superstar que você conhece: de Tiësto a David Guetta.
‘Qualquer um pode mixar’
Deadmou5 argumenta que não pode se arriscar nas megafestas em que se apresenta, onde “qualquer deslize teria consequências drásticas”. Desdenha do talento para mixagem, dizendo que “juntar beats no tempo certo é algo que qualquer um pode fazer”. E, para atiçar ainda mais, escreve: “Meu talento para música brilha onde deve: no estúdio”.
— Muitos DJs usam programas que fazem sync (recurso em que músicas com o mesmo andamento são agrupadas automaticamente), o que dá mais agilidade ao set. Uso o programa Traktor, mas preservo a mixagem clássica. Nada de playback — enfatiza Leo Janeiro.
Enquanto a grita cresce, José Camarano, testemunha de polêmicas desde que defensores do vinil execravam DJs que tocavam CDs, decreta:
— O verdadeiro DJ sempre terá público.
Internacionalmente, os questionamentos sobre as habilidades de um “disc-jockey” esquentaram após as declarações do DJ superstar canadense Deadmou5, que há um mês publicou em seu blog um post com o título “Todos nós apertamos o play”. No texto, depois de afirmar ter consciência de que seria odiado pela classe ao “revelar um segredo”, solta a bomba: “Todos tocamos sets com trechos pré-mixados.” Logo, as declarações repercutiram em blogs, sites e revistas especializadas, em proporções planetárias, dirigindo palavras pouco amigáveis ao “rato”.
Pois aqui as coisas também não estão calmas. Causam desconforto aos profissionais os DJs iniciantes que, considerados “celebridades”, cobram cachês de astros. Em julho, por exemplo, o DJ Olin Batista, filho do milionário Eike Batista, com menos de um ano de carreira, levou R$ 12 mil (valor de top) para tocar na boate Tamboatá, em Itaipava, como noticiado na coluna Gente Boa.
— Levamos quase 20 anos construindo uma cena eletrônica. Suamos para conseguir músicas, equipamentos certos, treinamento e até para criar ídolos genuinamente brasileiros — diz o DJ Memê, um dos mais bem-sucedidos do país e também um dos principais críticos da invasão dos “DJs de ocasião”. Ou, como apelidados nas redes sociais, os “DJs-fake”.
O fenômeno parece mais frequente no interior do país, em que a simples menção de um nome famoso atrai público. Mas, mesmo em pistas em que a cultura club é exercida como antigamente, as tais celebridades já dão as caras. É o caso da apresentadora de TV Pietra Príncipe, convidada para tocar no Fosfobox, ontem.
— Não acho que DJs-celebridades tomem lugar de profissionais — argumenta Cabbet Araujo, sócio do Fosfobox. — O que existe é uma nova geração que não está muito interessada no conceito musical de um ou outro DJ. Os tempos mudaram.
Um dos primeiros sintomas da mudança foi há quatro anos, quando nasceu a noite I Love Pop, chefiada pelo stylist (e DJ) José Camarano e pela produtora (e DJ) Suzana Trajano. Só de ouvir a expressão “DJ-fake”, Camarano, um inconteste frequentador das melhores pistas do país, reage:
— Ouço essa reclamação desde os tempos do iPod no Dama de Ferro, em 2006. Achei que o assunto estivesse resolvido, porque no Rio há lugares como a Comuna, onde só tocam DJs profissionais, além de noites novas, como a D-Date, no 00. Há espaço para todos.
Para o DJ e produtor Leo Janeiro, do trio Ask2Quit, fakes só têm espaço nas pistas de som mais comercial.
— O problema é que convidar famosos deixou de ser uma brincadeira, e eles começaram a se vender como profissionais — diz. Ficou fácil juntar “DJ” ao nome e ganhar com isso.
A facilidade das novas tecnologias também é apontada como predadora. Hoje descrito pela sigla EDM (electronic dance music), o som dos DJs contemporâneos tem à frente ídolos como Deadmou5 e o sueco Sebastian Ingrosso, que também admitiu ter tocado trechos pré-mixados em seus sets. Para alongar a lista de suspeitos, pense em todo DJ superstar que você conhece: de Tiësto a David Guetta.
‘Qualquer um pode mixar’
Deadmou5 argumenta que não pode se arriscar nas megafestas em que se apresenta, onde “qualquer deslize teria consequências drásticas”. Desdenha do talento para mixagem, dizendo que “juntar beats no tempo certo é algo que qualquer um pode fazer”. E, para atiçar ainda mais, escreve: “Meu talento para música brilha onde deve: no estúdio”.
— Muitos DJs usam programas que fazem sync (recurso em que músicas com o mesmo andamento são agrupadas automaticamente), o que dá mais agilidade ao set. Uso o programa Traktor, mas preservo a mixagem clássica. Nada de playback — enfatiza Leo Janeiro.
Enquanto a grita cresce, José Camarano, testemunha de polêmicas desde que defensores do vinil execravam DJs que tocavam CDs, decreta:
— O verdadeiro DJ sempre terá público.
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