Formato digital dominou a indústria da música, mas
vida útil do LP e a qualidade do som no toca-discos são
fatores para continuar com o velho vinil, diz colecionador
Formato digital dominou a indústria da música, mas vida útil do LP e a qualidade do som no toca-discos são fatores para continuar com o velho vinil, diz colecionador
“MP3 é um palavrão”, diz Paulo José da Costa, de 61 anos. Dono de uma coleção de LPs e discos de 72 rpm que passa das 4 mil unidades, alguém poderia imaginar que sua aversão ao formato de música digital é apenas resistência de quem não quer entrar para o mundo da tecnologia moderna. Ledo engano: sua aquisição mais recente foi um jogo de guerra para o Xbox 360 e ele dedica parte do dia para colocar vídeos antigos no Youtube.
O que o incomoda é a qualidade do som. “Ganhei a coleção inteirinha do [pianista canadense] Glenn Gould em MP3, mas estou até com medo de ouvir. Meus ouvidos são virgens para o MP3. Já li muito a respeito. Não funciona, não tem qualidade nenhuma. Quem quer ouvir música descartável, para daqui a três ou quatro meses jogar no lixo, tudo bem, pode ouvir em qualquer lugar. Mas se quer uma boa gravação, não dá pra ouvir em MP3”, defende ele, que também é proprietário do sebo Fígaro, no Centro de Curitiba, e coleciona fotos e filme antigos.
Um dos motivos que têm impulsionado o aumento nas vendas de LPs nos últimos anos é sem dúvida a qualidade do som. A chegada do iPod transformou a indústria da música porque deu ao usuário mobilidade e capacidade para organizar suas canções preferidas da sua própria maneira – usando as playlists, por exemplo –, em contraposição aos discos e CDs, em que a organização era feita pelas empresas fonográficas. Mas o avanço do formato veio com um custo na qualidade do som. É até possível baixar músicas de alta densidade, com som melhor, mas isso normalmente ocupa um espaço na memória do tocador que pouca gente está disposta a ceder.
Em entrevista à Wired na semana passada, o cantor Neil Young fez um apelo por uma completa renovação no atual ecossistema de áudio digital. Ele lembrou que a maioria das músicas vendidas no iTunes hoje tem qualidade de 256kbps. Um CD só captura 15% da qualidade da gravação original, a matriz, e quando se pensa no arquivo de MP3, a perda é ainda maior. “Meu objetivo é tentar resgatar a forma de arte que estou praticando pelos últimos 50 anos”, afirmou ele à revista. “Nós vivemos na era digital, e infelizmente isso está degradando nossa música, não melhorando”.
De acordo com a matéria, Young estava trabalhando junto com Steve Jobs, também um descrente em MP3, para tentar levar música de alta qualidade para um grande número de pessoas. Uma das opções era um hardware capaz de armazenar esses arquivos. Após a morte do co-fundador da Apple, o projeto estancou, mas o músico pretende retomá-lo.
Enquanto isso, para Paulo José da Costa, o melhor mesmo é manter-se com os formatos físicos, de preferência o vinil. “Se bem cuidado, o vinil ainda estará aqui daqui a 100 ou 200 anos. Basta ter um aparelho para tocar a mídia e a gravação vai continuar intacta. A mídia digital não é assim”, afirma.
Ele faz um paralelo com as fotografias digitais. “Veja o que está acontecendo. Antes, tudo que era fotografado ia para o papel. Os herdeiros guardavam ou passavam adiante, chegando a pessoas como eu, que coleciono fotos antigas. Mas, hoje, com o digital, pouca gente tem cópia no papel. A pessoa precisa de espaço na máquina e vai deletando da memória as fotos mais antigas. Essa geração das máquinas digitais, quando for daqui a 20 anos, vai ter muita pouca coisa. Ou você pensa que o Facebook vai manter essas fotos aí por 50 anos?”.
Fonte: GAZETA DO POVO
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