BEM VINDO AO CLUBEDOVINYL!

Muito tempo se passou e ele continua por aí, forte como nunca. Os realmente fieis não o abandonam jamais e, enquanto respirarem, o bom e velho vinil continuará vivo.
É nosso dever manter essa tradição da boa música sempre viva.
Aos amantes do bom e velho vinil desejamos boas vindas.


Lojas de discos não são um estabelecimento comercial qualquer, mas um espaço cultural, um ponto de encontro, um centro comunitário, um laboratório de interatividade. Suprema curtição sabática, em geral matutina, mesmo em cidades à beira-mar, nelas nasceram e se forjaram muitas amizades, sensibilidades e vocações musicais. Mais que a loja de doces dos adultos, é uma catedral aural.
(Nellie McKay)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Música no ambiente digital: direitos autorais e novos modelos de negócio e distribuição

Fonte: REVISTA ELETRÔNICA DE JORNALISMO CIENTÍFICO

“Não se muda as coisas lutando contra a realidade.
Para transformar algo, construa um novo modelo
que torne o modelo existente obsoleto"

R. Buckminster Fuller


Cabe a discussão....

MP3 is not a crime . Muitos já viram este slogan circulando em camisetas ou exposto em blogs engajados em debates acerca da cultura digital. De fato, MP3 não é um crime. Segundo a Wikipedia em inglês, MP3 é apenas o nome dado a uma tecnologia de compressão digital de áudio, utilizada para armazenar qualquer tipo de som. Arquivos de áudio comprimidos usando essa tecnologia seriam, então, arquivos no formato MP3.


Por trás desse slogan, entretanto, há muito mais. O que está em discussão não é a simples legalidade do procedimento tecnológico, mas sim o debate em torno dos hábitos de compartilhamento que surgiram com a evolução das tecnologias de informação e comunicação, em especial da internet.

Trata-se de um contexto extremamente distinto daquele que encontrávamos 20, 10, ou mesmo 5 anos atrás. A cada ano, caem os custos de aquisição de computadores pessoais, aumenta a velocidade de conexão à internet, apresentam-se tecnologias mais sofisticadas e eficientes de compartilhamento. Hoje o acesso à internet via celular também já é uma realidade. Segundo dados da Anatel, o Brasil conta hoje com mais de 175 milhões de celulares.

Através do avanço da tecnologia, abrem-se novas possibilidades de produzir, distribuir e consumir a informação e a música. Mudam também os hábitos dos consumidores.

Com a redução do preço dos computadores e de outras tecnologias, o consumidor deixou de se tornar um simples receptor para tornar-se também um produtor de conteúdo, não só através da criação de suas obras mas também pela modificação de obras alheias, dando origem a um novo tipo de cultura baseado no remix .

Esta mudança ocorreu com uma velocidade avassaladora, atingindo em cheio o modelo de negócio do entretenimento consolidado ao longo do século XX, e tornando rapidamente obsoleta a legislação ligada ao direito autoral. Enquanto a internet avança em sua fúria liberalizante, a lei mantém regras rígidas para a circulação de conteúdo. Como conciliar essas duas engrenagens que se movem em sentidos opostos?

A lei de direitos autorais no Brasil

A lei de direito autoral brasileira – Lei 9.610/98 – data de 1998. Quando aprovada, a internet operava comercialmente no Brasil há apenas 3 anos e a primeira loja a vender músicas na rede para brasileiros sequer existia: surgiria somente no ano 2000.

É certo, portanto, que o legislador não poderia antever o compartilhamento em redes peer-to-peer (P2P), nem mesmo que a cópia digital seria feita em segundos sem perda relevante de qualidade. Jamais seria possível, em 1998, imaginar um regime jurídico para enquadrar provedores de serviço como o YouTube (criado em 2005), que se baseiam em conteúdo integralmente gerado por seus usuários.

Certas questões, portanto, estão abertas até hoje. Numa análise exclusivamente jurídica, o que se pode observar é que condutas que se tornaram triviais nos dias de hoje estão proibidas e muitas vezes criminalizadas pela nossa lei. O compartilhamento de obras protegidas por direito autoral é ilegal. Remixar um vídeo encontrado no YouTube, só com autorização expressa do seu autor. Colocar na rede aquele CD que não se encontra mais nas lojas também não pode.

A lei brasileira de direitos autorais estabelece que qualquer obra, imediatamente após a sua criação, está protegida pelo direito autoral independentemente de registro. Isso significa que qualquer uso (a não ser aqueles que encontram exceções previstas expressamente na própria lei) de qualquer obra depende de autorização do autor ou do titular dos direitos de autor. Dessa forma, todo o conteúdo que se encontra na rede presume-se protegido.

O problema não está, entretanto, na regra que confere proteção imediata às criações, mas na ausência de limitações e exceções ao direito de autor, que sejam compatíveis com a realidade tecnológica. Um exemplo é a proibição da cópia privada. No Brasil, só é permitida a cópia de pequenos trechos de obras para uso privado. Disso decorre que mesmo CDs adquiridos legalmente não podem ser convertidos em MP3 para uso pessoal.

Nesse sentido e contexto específico, o MP3 torna-se ilegal. Dessa forma, caem sob o rótulo de pirataria (violação dos direitos de autor) não só cópia em larga escala e com fins comerciais, mas também a prática do consumidor que reproduz com fins culturais, educacionais e sem intuito de lucro. Todos acabam na ilegalidade.

Seria razoável, portanto, flexibilizar a lei para manter como proibidas somente condutas mais graves e lesivas ao autor. Igualmente importante seria adequar os modelos de negócio da indústria que explora o mercado musical.

Ocorre que a indústria tradicional não parece disposta a aceitar mudanças que flexibilizem a lei. Afinal, da forma como está a regra atual, novos modelos de negócio que venham a surgir encontram extrema dificuldade em não violar a legislação e muitos deles acabam, por sua vez, na ilegalidade. A lei acaba servindo como um instrumento de proteção a modelos de negócio ultrapassados.

Apesar disso, há novas alternativas surgindo que mostram que a repressão ao compartilhamento não é a única alternativa viável para lucrar no mercado da música. É o que veremos no próximo item.

Novos modelos de negócio

A ruptura gerada pela ampliação do acesso aos meios digitais de produção e distribuição de música tirou das grandes gravadoras o tradicional papel de gatekeeper : na indústria fonográfica (não confundir com indústria musical), até o início dos anos 2000, as chamadas majors peneiravam sob critérios próprios quem da massa de artistas desejosos de gravar iria se tornar conhecido.

Conforme acontece hoje, investia-se em poucos artistas, mitigando o risco de insucesso nas vendas. Com a necessidade do suporte físico (fosse ele vinil, fita cassete ou CD) e a baixa qualidade de cópia, havia a escassez – para ouvir a música, o suporte físico era necessário. Entretanto, quando a música migra para o ambiente digital e passa a prescindir do suporte físico, a ideia de escassez deixa de fazer sentido.

Alie-se à tal ruptura a mudança na forma de consumo (música em vez de álbum, experimentação prévia à compra, cópia sem perda de qualidade) e a revolução gerada pela web 2.0 – na mídia tradicional, "emplacar" tendências e sucessos da música dependia bastante de uma influente assessoria de imprensa; na configuração atual, quem deseja conhecer novos artistas não mais se fia somente na grande mídia, mas sim em sistemas de recomendação baseados em reputação, redes sociais e blogs.

Hoje, no ambiente digital, um artista não necessita de quantia excepcional para realizar de forma autônoma os processos que antes cabiam às gravadoras: produção, promoção e distribuição. Softwares e plataformas que realizam cada uma dessas etapas podem ser encontrados gratuitamente na internet. Como resultado, milhões de artistas que em outros tempos não chegariam à público, têm hoje tal oportunidade.

Nesse ponto, surgiram dois novos desafios: como se destacar no meio de tantos outros artistas igualmente empoderados e como ser remunerado em tempos de compartilhamento livre?

Entra em cena o conceito de economia da atenção , segundo o qual esta seria um bem escasso e, por isso, valioso, em tempos de profusão de informação. Para os artistas, isso se traduz na necessidade de maior proximidade com seus fãs através de interação genuína, personalizada e feita de forma criativa, principalmente via redes sociais (como MySpace, Facebook, SoundCloud, TramaVirtual, ReverbNation, Orkut, Oi Novo Som, Indaba e BeatPortal) e plataformas de informação como o microblog Twitter e blogs.

O valor, pois, desloca-se do fonograma (e prioritariamente de seus suportes) e passa a residir na relação entre artista e fã: a experiência, o contexto. Muitos artistas já perceberam isso e contabilizam como vantajosa a disponibilização online gratuita de suas músicas em troca do estreitamento do canal de acesso a seu público, Mas como sustentar a produção artística?

Ganhando dinheiro com música na economia do grátis

A economia do grátis, ou freeconomics , é um conceito criado por Chris Anderson, editor da revista de tecnologia Wired e autor da teoria da cauda longa. O principal argumento de Anderson é o fato de os custos de armazenamento, distribuição e divulgação no mundo digital estarem rapidamente tendendo para o zero. Anderson propõe a capitalização, pela indústria do entretenimento, da irreversível realidade do compartilhamento de arquivos online.

Esta teria sido uma opção no início dos anos 2000, quando se popularizou o compartilhamento através de programas baseados em redes peer-to-peer , como o Napster. Entretanto, o caminho escolhido pela indústria foi outro: em 2001, a Recording Industry Association of America (RIAA) venceu batalha judicial contra o Napster sob acusação de violação da lei de direito autoral. O Napster fechou, enfurecendo os consumidores de música, mas imediatamente outros softwares P2P surgiram (como Limewire, eMule, Audiogalaxy e Soulseek) e a indústria fonográfica perdeu a oportunidade de aprender a lucrar com essa nova realidade.

Alternativas

Ao disponibilizar gratuitamente online suas gravações, o desenvolvimento de produtos e serviços premium como forma de obter lucro pode ser uma fonte alternativa de renda. É preciso inovar na criação e apresentação de produtos: ingressos de shows, peças de merchandising (como camisas, adesivos, bonés, buttons), edições físicas especiais de CDs, arquivo digital sem compressão para fins de remix, comercialização de faixas em sites de venda de música para quem deseje pagar pelo fonograma, acesso exclusivo a áreas (físicas e virtuais) e conteúdos, dentre tantos outros quanto o artista elabore, são alternativas.

Há que se citar ainda como importante forma de remuneração, ao lado das apresentações ao vivo, a sincronização e o licenciamento de música para obras audiovisuais e games. Websites como o Jamendo, Magnatune, BeatPick e YouLicense se propõem a atuar como canal de licenciamento para peças publicitárias, filmes e novelas, por exemplo.

Vários artistas vêm experimentando soluções criativas para engajamento com seus fãs. Amanda Palmer, líder do duo norte-americano Dresden Dolls, por exemplo, em novembro de 2009 levantou 19 mil dólares em 10 horas de atividades realizadas em conjunto com seus fãs via Twitter: criação colaborativa de camiseta temática que fazia referência àquele momento específico, leilão online de objetos pessoais e profissionais e apresentação em estúdio somente para convidados. O limite é a criatividade e o grau de engajamento com os fãs.

Com criatividade e um pouco de flexibilização, é possível lucrar sem criminalizar o consumidor. MP3, de fato, não precisa ser um crime.


Por: Luiz Fernando Moncau, advogado, e Paula Martini, comunicóloga, fazem parte do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro.

Um comentário:

ClubeDoVinyl disse...

No mínimo polêmico!
Ilegal ou não, o formato MP3 tem sido o meio mais adotado para distribuição musical.
Nós mesmos, amantes do velho vinil, às vezes nos pegamos trocando ou baixando esse tipo de formato, apesar de ferir o nosso primeiro propósito.

Homenagem - 20ª Festa dos Amigos - Família Canella

MARVIN GAYE

Marvin Gaye (Washington, 2 de abril de 1939 — Los Angeles, 1 de abril de 1984), nascido Marvin Pentz Gay, Jr., foi um cantor popular de soul e R&B, arranjador, multi-instrumentista, compositor e produtor. Ganhou fama internacional durante os anos 60 e 70 como um artista da gravadora Motown.
O início da carreira do cantor foi em 1961, na Motown, onde Gaye rapidamente se tornaria o principal cantor da gravadora e emplacaria numerosos sucessos durante os anos sessenta, entre eles "Stubborn Kind of Fellow", "How Sweet It Is (To Be Loved By You)", "I Heard It Through the Grapevine" e vários duetos com Tammi Terrell, incluindo "Ain't No Mountain High Enough" e "You're All I Need to Get By", antes de mudar sua própria forma de se expressar musicalmente. Gaye é importante por sua luta por produzir seus sucessos, mas criativamente restritivo - no processo de gravação da Motown, intérpretes, compositores e produtores eram geralmente mantidos em áreas separadas.
Com seu bem-sucedido álbum What's Going On, de 1971, e outros lançamentos subsequentes - includindo Trouble Man, de 1972, e Let's Get It On, de 1973, Gaye, que vez ou outra compunha canções para artistas da Motown no início da sua carreira, provou também que poderia tanto escrever quanto produzir seus próprios discos sem ter de confiar no sistema da Motown. Ele é também conhecido por seu ambientalismo, talvez mais evidente na canção "Mercy Mercy Me (The Ecology)".
Durante os anos setenta, Gaye lançaria outros notáveis álbuns, includindo Let's Get It On e I Want You, além de ter emplacado vários sucessos, como "Let's Get It On" e "Got to Give It Up". Já no começo dos anos oitenta, seria a vez do hit "Sexual Healing", que lhe rendeu - antes de sua morte - dois prêmios Grammy. Até o momento de ser assassinado pelo seu pai, em 1984, Gaye tinha se tornado um dos mais influentes artistas da cena soul. Em 1996, Gaye foi homenageado na 38º cerimônia do Grammy Awards.
A carreira de Marvin tem sido descrita como uma das que "abarcam toda a história do R&B, do doo-wop dos anos cinquenta ao soul contemporâneo dos anos oitenta."[2] Críticos têm também afirmado que a produção musical de Gaye "significou o desenvolvimento da black music a partir do rhythm'n blues, através de um sofisticado soul de consciência política nos anos setenta e de uma abordagem maior em assuntos de cunho pessoal e sexual.
Marvin Gaye nasceu no Freedman's Hospital, em Washington, D.C.. Ele foi o primeiro filho e o segundo mais velho de quatro filhos do pastor evangélico Marvin Pentz Gaye Sr. e da professor/dona-de-casa Alberta Cooper. Com as irmãs Jeanne e Zeola e o irmão mais novo Frankie, viviam na zona segregada da capital norte-americana, no bairro da Deanwood (nordeste da cidade). Ainda novo, ele era carregador de tacos de golfe no Norbeck Country Club, em Olney, Maryland. O pai de Gaye pregava com pastor na Igreja Adventista do Sétimo Dia chamada House of God (a "Casa de Deus"), que tinha um rigoroso código de conduta misturado a ensinamentos do judaísmo ortodoxo e pentecostalismo. Crescendo na igreja de seu pai, Marvin começou a cantar desde cedo no coral - aos 3 anos - e a tocar instrumentos. A música era uma espécie de válvula de escape para o jovem, que durante toda a infância costumava apanhar do pai diariamente. Durante o tempo em que esteve na high school, Marvin começou a ouvir doo-wop e ingressou no DC Tones como um baterista.[5] Após abandonar a Cardozo High School, Gaye alistou-se na Força Aérea dos Estados Unidos. Após o fingimento de uma doença mental,[6] ele foi dispensado por ter se recusado a seguir ordens.
Após abandonar as Forças Aéreas em 1957, Gaye começou sua carreira musical em vários grupos doo wop, fixando-se em um popular grupo de Washington DC, chamado The Marquees. Com Bo Diddley, os Marquees lançaram o single "Wyatt Earp" em 1957 pela gravadora Okeh e foram então contratados por Harvey Fuqua para o grupo The Moonglows. "Mama Loocie", lançada em 1959 pela gravadora Chess, foi o primeiro e único single de Gaye com os Moonglows. Junto com os Moonglows, Gaye assimilou várias técnicas, utilizadas posteriormente, nos álbuns que produziria. E foi com ajuda dessa banda que ele foi apresentado a empresários da cena musical. Depois de um concerto em Detroit, o "novo" Moonglows foi dissolvido e Fuqua apresentou Gaye a Berry Gordy, presidente da Motown Records. Ele contratou Gaye primeiramente como baterista de estúdio, para tocar para grupos como The Miracles, The Contours, Martha and the Vandellas, The Marvelettes, entre outros. Gaye tocou bateria para as Marvelettes na canção "Please Mr. Postman", em 1961, e para a versão ao vivo de Little Stevie Wonder para a canção "Fingertips Pt. 2", de 1963. Ambas canções alcançaram o primeiro lugar na parada norte-americana da Billboard.
Depois de iniciar sua carreira na Motown, Gaye mudou seu nome de Marvin Gay para Marvin Gaye, acrescentando o '"e"' para se separar do nome de seu pai, para encerrar os boatos em curso em torno de sua sexualidade e ainda para imitar seu ídolo, Sam Cooke, que havia também acrescentado um 'e' ao seu sobrenome.[8] Gaye desejava gravar para a Motown, mas Berry Gordy tinha receio quanto ao cantor, devido ao fato de que Gaye não costumava seguir as ordens sobre as quais a gravadora queria que ele cumprisse. De acordo com um documentário do canal de televisão VH1, a namorada de Marvin - e irmã de Berry -, Anna Berry Gordy, convenceu o irmão a assinar com Gaye. Berry concordou em deixar que Marvin gravasse versões pop-contemporâneas de baladas românticas baseadas no jazz.
Popular e querido dentro da Motown, Gaye já carregava com ele uma maneira sofisticada e cavalheiresca e tinha pouca necessidade de treinamento no setor de desenvolvimento artístico da gravadora - embora tenha seguido o conselho do diretor dessa divisão, Maxine Powell, de não cantar de olhos fechados, para não parecer que tinha adormecido". Em junho de 1961, foi lançado a primeira gravação solo de Gaye, The Soulful Moods of Marvin Gaye. Foi o segundo LP lançado pela Motown - o primeiro foi o Hi… We're The Miracles, o primeiro disco dos Miracles. Apesar das faixas "How Deep Is the Ocean?" e "How High the Moon" terem sido elogiadas pela crítica pela profundidade das harmonias e melodias, o álbum de Gaye fracassou e nem chegou às paradas norte-americanas. Marvin ainda tinha dificuldades em descobrir seu jeito próprio de cantar, que ele desejava que fosse o mais próximo de Nat King Cole, um dos ícones do jazz, estilo que predomina no primeiro disco solo de Marvin. A Motown queria que o cantor se direcionasse para melodias da soul music, mais populares e atraentes no mercado fonográfico.
Depois de discutir sobre a direção de sua carreira com Berry Gordy, Gaye - relutante - concordou em gravar mais canções de R&B de seus colegas de gravadora e outros três novos escritos pelo próprio Gordy. Seu primeiro single lançado, "Let Your Conscience Be Your Guide", construída sobre uma vibração de Ray Charles, fracassou nas paradas - tendo o mesmo ocorrido com as canções "Sandman" e "A Soldier's Plea", todas de 1962. Ironicamente, Gaye encontraria o sucesso primeiramente como compositor da canção "Beechwood 4-5789", gravada pelas Marvelettes em 1962. Finalmente naquele mesmo ano, o single "Stubborn Kind of Fellow" rendeu algum sucesso e chegou ao Top 10 R&B dos Estados Unidos. Co-escrita por Gaye e produzida pelo amigo William "Mickey" Stevenson, a gravação contou com a participação das recém-contratadas Martha and the Vandellas (então conhecidas como The Vells) e foi uma espécie de desabafo autobiográfico sobre o comportamento indiferente e deprimido de Gaye. Na sequência de "Stubborn Kind of Fellow" vieram, em 1963, outros três singles: as dançantes "Hitch Hike" e "Can I Get a Witness", que chegaram ao Top 30 Pop da Billboard, e a balada romântica "Pride and Joy", primeira canção de Gaye a chegar ao Top 10 Pop.
Apesar do cantor começar a encontrar o caminho do sucesso, Marvin ainda brigava com a Motown para ser um cantor de baladas românticas e sofisticadas, diferentemente da linha da gravadora que esperava de seus artistas os grandes hits. Batalhas entre a opção artística de Marvin e a demanda por produtos comerciais da Motown seriam frequentes ao longo dos anos e marcariam o relacionamento entre o cantor e a gravadora, já que as insistentes cobranças do selo por um trabalho mais comercial eram incompatíveis com as ambições artísticas de Gaye.
O sucesso continuaria em 1964 com os singles "You Are a Wonderful One" (que contou com o trabalho vocal de fundo do grupo The Supremes), "Try It Baby" (que contou com vocais de fundo do grupo The Temptations), "Baby Don't You Do It" e "How Sweet It Is (To Be Loved By You)", que tornou-se sua primeira composição de sucesso. Durante este fase inicial de sucesso, Gaye ainda contribuiu com o grupo Martha and the Vandellas, sendo autor da letra do hit "Dancing in the Street", sucesso naquele mesmo ano. Gaye também conseguiu figurar nas paradas com o álbum Together, um disco de duetos com a cantora Mary Wells. A dupla emplacou os singles "Once Upon a Time" e "What's the Matter With You, Baby?". Como artista solo, Gaye continuou a desfrutar de um grande sucesso e seu LP Moods of Marvin Gaye, de 1966, do qual participou Smokey Robinson, colocou os singles "I'll Be Doggone" e "Ain't That Peculiar" tanto o Top 10 Pop da Billboard quanto no topo - pela primeira vez na carreira do cantor - da parada R&B norte-americana. Com Kim Weston, sua segunda parceria de dueto, foi lançado "It Takes Two", canção que chegou ao Top 20 Pop e ao quarto lugar na lista de R&B da Billboard. Marvin Gaye se estabelecia como um dos principais artistas na era dos duos. Seu sucesso como cantor solo também lhe concedeu o status de ídolo da juventude, assim como ele se tornou um dos artistas prediletos nos principais shows adolescentes - entre os quais, American Coreto, Shindig!,Hullaballoo e The Mike Douglas Show. Ele também se tornou um dos poucos artistas da Motown a se apresentar no Copacabana - e um álbum seu gravado na casa demoraria três décadas para ser lançado.
Uma série dos sucessos de Gaye pela Motown foram duetos com artistas femininas, tais como Mary Wells e Kim Weston. O primeiro LP do cantor a aparecer nas listas da Billboard foi o Together, de 1964, disco de duetos com Wells. No entanto, a parceira mais popular e memorável de Marvin foi Tammi Terrell. Gaye e Terrell tinham um bom relacionamento e o álbum de estréia da dupla, United, lançado em 1967, gerou uma série de sucessos, como "Ain't No Mountain High Enough", "Your Precious Love", "If I Could Build My Whole World Around You" e "If This World Were Mine".
A dupla de compositores Nickolas Ashford e Valerie Simpson, que eram também casados, forneceu as letras e a produção para as gravações de Gaye/Terrell. Enquanto Gaye e Terrell não formavam um casal de namorados - embora rumores persistam de que eles podem ter tido um caso anteriormente -, eles atuavam como verdadeiros amantes nas gravações. De fato, Gaye às vezes declarava que pela duração das canções ele estava apaixonado por ela. Mas ainda naquele ano, o sucesso da parceria foi tragicamente encurtado. Em 14 de outubro, Terrell desmaiou nos braços de Gaye, enquanto eles se apresentavam no Hampton Institute (hoje Hampton Universit), em Hampton, Virginia. Era o primeiro sintoma de um tumor cerebral, diagnosticado em exames realizados posteriormente, e que continuaria a debilitar a saúde de Tammi.
A Motown decidiu tentar e continuar as gravações da dupla Gaye/Terrell. Em 1968, a gravadora lançou You're All I Need, o segundo LP da dupla, que se destacou pelos sucessos de "Ain't Nothing Like the Real Thing" e "You're All I Need to Get By". No ano seguinte foi lançado Easy, o último álbum da dupla. A deterioração da saúde de Terrell a impediu de concluir as gravações de estúdio e a maior parte dos vocais femininos teriam sido gravados por Valerie Simpson. Duas faixas do LP eram canções arquivadas da carreira solo de Terrell e foram mixadas com a voz de Gaye.
A doença de Tammi Terrell deixou Gaye em profunda depressão; quando sua canção "I Heard It Through the Grapevine" (inicialmente gravada em 1967 por Gladys Knight & The Pips) chegou ao primeiro lugar da principal lista da Billboard - além de ter também sido o single mais vendido da história da Motown, com quatro milhões de cópias -, ele se recusou a reconhecer seu sucesso, sentindo que ele era imerecido. O trabalho com o produtor Norman Whitfield, que havia produzido "Grapevine", resultou em outros dois sucessos similares: "Too Busy Thinking About My Baby" e "That's the Way Love Is". Entretanto, o casamento de Gaye estava ruindo e ele continuava a sentir que seu trabalho artístico era completamente irrelevante. Frente às transformações sociais que chacoalhavam os Estados Unidos naquele período.
Ao mesmo tempo que Marvin cantava interminavelmente sobre o amor, a música popular norte-americana passava por uma grande revolução, abordando em suas letras as questões sociais e políticas daqueles anos. Desejando ter independência criativa, Marvin foi liberado pela Motown para produzir as gravações de estúdio das bandas The Originals, cujo resultado apareceu nos hits "Baby I'm For Real" e "The Bells".
Em 16 de março de 1970, Tammi Terrell morreu em decorrência do tumor cerebral e deixou Marvin devastado. Durante o funeral da parceira, Marvin estava tão sensível que ele conversava com o corpo de Tammi como que esperando por uma resposta dela. Imediatamente, Gaye mergulhou em um auto-isolamento e ficou sem se apresentar ao vivo por quase dois anos. Gaye contou a amigos que havia pensado em deixar a carreira musical, à ponto até de tentar ingressar no futebol americano e jogar no Detroit Lions (onde ele encontrou os colegas Mel Farr e Lem Barney), mas depois de seu sucesso produzindo os Originals, Gaye estava confiante em criar sua própria gravadora. Como resultado disso, ele entrou nos estúdios em 1 de junho de 1970 para gravar as canções "What's Going On", "God is Love", "Sad Tomorrows" - uma versão inicial da canção "Flying High (In the Friendly Sky)". Gaye queria lançar "What's Going On" como single, mas Berry Gordy recusou-se, alegando que a canção não era viável comercialmente. Gaye recusou-se a gravar qualquer outra canção até que o presidente da Motown cedesse, o que ocorreria em janeiro de 1971. O sucesso do single surpreendeu Gordy, que requisitou um álbum com canções similares.
O álbum What's Going On tornou-se um dos mais importantes da carreira de Gaye e é até hoje seu trabalho mais conhecido. Tanto em termos de som (influenciada pelo funk e pelo jazz) e de conteúdo das letras (fortemente espiritual), o álbum representou uma aproximação com seus trabalhos iniciais na Motown. Além da faixa-título, "Mercy Mercy Me" e "Inner City Blues (Make Me Wanna Holler)" atingiram o Top 10 Pop Hits e o primeiro lugar da lista R&B da Billboard. Considerado como um dos mais notáveis discos da história da soul music norte-americana, o álbum conceitual de Gaye foi um divisor de águas para esse gênero musical. Ele já foi chamado de "a mais importante e apaixonada gravação já lançada da música soul, entregue por uma de suas melhores vozes".
Com o sucesso do álbum What's Going On, a Motown renegociou um novo contrato com Marvin que permitiu a ele o controle artístico de seu trabalho, no valor de US$1 milhão, fazendo do cantor o mais bem pago artista negro da história da música. Além disso, Gaye ajudou a libertar o trabalho criativo de outros artistas da Motown, entre os quais Stevie Wonder. Ainda naquela época, Marvin mudou-se de Detroit para Los Angeles em 1972 após receber uma proposta para escrever a trilha-sonora para um filme blaxploitation. Escrevendo as letras, criando os arranjos e produzindo o LP para o filme Trouble Man, Marvin lançou o álbum e a canção homônimas, que atingiram o Top 10 Pop da Billboard em 1973. Depois de passar por um período complicado quanto aos rumos de sua carreira, Marvin decidiu mudar o conceito lírico das composições. O LP Let’s Get it On trazia uma temática menos social e mais pessoal da vida de Marvin. Conflitos com o pai, dúvidas existenciais e questões sobre a vida particular do compositor fazem parte do álbum. O LP foi um dos trabalhos mais bem sucedidos de sua carreira e o seu maior sucesso de vendas, superando What's Going On. A faixa-título chegou ao topo da parada pop da Billboard e bateu o recorde de vendagens da Motown, que pertencia ao próprio Marvin com "I Heard It Through the Grapevine". Outros destaques do LP foram as canções "Come Get to This", "You Sure Love to Ball" e "Distant Lover".
Gaye começou a trabalhar naquele que seria seu último álbum dueto, desta vez com Diana Ross. O projeto do LP Diana & Marvin teve início em 1972, mas houve atrasos no andamento do álbum. Com Diana grávida pela segunda vez, Gaye recusava-se a cantar se ele não pudesse fumar no estúdio. Então, os dois realizaram as gravações em dias separados. Lançado no segundo semestre de 1973, o álbum rendeu vários sucessos, entre os quais "You're a Special Part of Me", "My Mistake (Was to Love You)" e as versões para "You Are Everything" e "Stop, Look, Listen (To Your Heart)", ambas hits do grupo The Stylistics.
Em 1975, Gaye começou a pensar em seu próximo disco solo, mas o divórcio com Anna Gordy tomou boa parte do seu tempo. O fim do casamento levou Gaye a várias audiências nos tribunais. O disco I Want You foi finalizado somente no ano seguinte. O álbum levou a faixa-título I Want You ao topo da parada R&B da Billboard.

Em 1977, a Motown lançou o single de "Got to Give It Up", que se tornou primeiro lugar nas lista Pop, R&B e Dance da Billboard, e o LP ao vivo Live at the London Palladium, álbum que vendeu em torno de duas milhões de cópias - se tornando um dos mais vendidos daquele ano. No ano seguinte, finalmente Gaye consegue se divorciar de sua primeira esposa Anna. Como resultado do acordo judicial, Gaye foi ordenado a pagar pensão alimentícia - ele concordou em ceder parte de seu salário e das vendas do seu álbum seguinte para pagar essa pensão. O resultado foi o LP duplo Here, My Dear, que explorou o relacionamento do casal em detalhes tão íntimos que quase levou Anna a processá-lo por invasão de privacidade, mas ela desistiu dessa decisão. O LP fracassou nas listas de sucesso e Gaye se esforçou para vender o disco. Em 1979, Gaye se casou pela segunda vez, agora com Janis Hunter, com quem teve dois filhos, Frankie e Nona), e começou a trabalhar em um novo álbum, Lover Man. Mas o projeto foi abortado depois do fracasso do single "Ego Tripping Out". Reclamando de problemas com impostos e de vício em drogas, Gaye pediu falência e se mudou para o Hawaii, onde ele vivia em um furgão.
Em 1980, ele assinou com o promotor britânico Jeffrey Kruger para realizar concertos no Reino Unido. Mas Gaye não conseguiu chegar em tempo ao palco. Quando ele chegou, todos já haviam deixado o concerto. Em Londres, Marvin trabalhou no LP In Our Lifetime?, uma complexa e profunda gravação pessoal. Quando a Motown lançou o disco em 1981, Gaye ficou lívido: ele acusou a gravadora de editar e remixar o álbum sem seu consentimento, lançando uma canção inacabada, "Far Cry", alterando a arte do LP que ele requisitara e removendo o ponto de interrogação do título (dessa forma, alterando sua conotação irônica).
Depois de oferecida uma nova chance em Ostend, Bélgica, Marvin mudou-se para lá ainda em 1981. Ainda perturbado pela decisão precipitada da Motown em lançar In Our Lifetime, ele negociou sua saída da gravadora e assinou com a Columbia Records no ano seguinte, onde lançou Midnight Love. O disco incluía o grande sucesso "Sexual Healing", que lhe rendeu seus primeiros dois prêmios Grammy (de Melhor Performance R&B Masculina e Melhor R&B Instrumental), em fevereiro de 1983. Ele também seria indicado aos mesmos prêmios no ano seguinte pelo LP Midnight Love. Também em fevereiro de 1983, Gaye fez uma apresentação memorável no All-Star Game da NBA, interpretando o Hino Nacional dos Estados Unidos. No mês seguinte, ele fez sua última apresentação para seu antigo mentor no concerto Motown 25, apresentando What's Going On. Depois, ele embarcou em uma turnê pelos EUA divulgando seu recente trabalho. Terminada a turnê, em agosto de 1983, ele estava atormentado por problemas de saúde - ele teve acessos de depressão e medo em torno de uma suposta tentativa de lhe tirarem a vida.
Quando a turnê foi encerrada, ele se isolou e se mudou para a casa de seus pais. Ele ameaçou cometer suicídio diversas vezes, depois de numerosas e amargas brigas com seu pai, o pastor evangélico Marvin Pentz Gay Sr. Em 1 de abril de 1984, um dia antes de completar seu 45º aniversário, Marvin foi assassinado com um tiro por seu próprio pai, após uma briga iniciada quando os pais de Gaye discutiam sobre a perda de documentos de negócios. A ironia é que Gaye foi morto por uma arma que ele próprio havia dado de presente para seu pai. Marvin Pentz Sr. foi condenado a seis anos de prisão, após ser declarado culpado por homicídio. A acusação de assassinato foi abandonada após médicos descobrirem que ele estava com um tumor cerebral. Marvin Pentz Sr passou o final de sua vida em um asilo, onde morreria de pneumonia em 1998.
Após alguns lançamentos póstumos, que fortaleceram a memória de Marvin na consciência popular, o cantor foi introduzido ao Rock and Roll Hall of Fame em 1987. Mais tarde, também ao Hollywood's Rock Walk e, em 1990, ganharia uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.

Fonte: WikiPédia