Luiz Gonzaga morava no Catete, um bairro do Rio, quando começou a relação com Odaléia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil. Tal namoro não coube no espaço minúsculo onde o rei do baião morava. Era necessária uma mudança para um local mais amplo. Luiz acabou arrumando um apartamento no porão de um prédio no bairro do Estácio. Nesse lugar, em 22 de setembro de 1945. nascia uma das mentes mais magníficas da Música Popular Brasileira: Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior.
Em 1946, com o falecimento de "Léia" - causado pela tuberculose - e seguidas viagens e turnês de Luiz pelo Brasil, a criação do pequeno Gonzaga Júnior ficou a cargo dos padrinhos Xavier Pinheiro e Dina. O apoio financeiro do pai famoso ajudou nos cuidados, apesar das pesares. No entanto, a distância e contato entre pai e filho eram raros. O menino foi crescendo no Morro de São Carlos, já demonstrando dotes musicais. Com quatorze anos, escreveu "Lembranças da Primavera", que foi gravada por Luiz Gonzaga no disco ''A triste partida'', de 1964.
Com 16 anos, voltou a morar com Gonzagão. Xavier e Dina não podiam dar um estudo de qualidade ao filho do rei do baião, apesar de todo o esforço. No bairro de Cocotá, Ilha do Governador, pai e filho mostravam seus temperamentos fortes em discussões, sobretudo, quando Gonzaguinha esquecia as horas no quarto estudando Economia ou passava da hora do almoço. A confusão era certa.
Gonzaguinha foi graduado em Economia pela Universidade Cândido Mendes, colocou ''o anel de doutor'', como queria Luiz, embora nunca tenha exercido a profissão. Na casa do psiquiatra Aluízio Porto Carrero, inaugurou uma amizade bastante interessante com Ivan Lins. Conheceu a primeira mulher, Ângela, com quem teve dois filhos, Daniel e Fernanda. Com a atriz Sandra Pêra, nasceu Amora Pêra. A convivência na casa do psiquiatra rendeu a fundação do Movimento Artístico Universitário (MAU) com Ivan Lins, Aldir Blanc, Márcio Proença, entre outros, que teve um importante papel na música popular nos anos 70, resultando em um belo especial na TV Globo (quando essa emissora parecia ter algum vínculo com a cultura musical desse país).
Com sua postura crítica à ditadura militar no Brasil, Gonzaguinha teve 54 músicas proibidas das 72 que escrevera no período, incluindo seu primeiro sucesso, "Comportamento Geral".
Iniciando a carreira como artista, suas apresentações eram nada agradáveis aos olhos da imprensa e mídia, que lhe deram o apelido de "cantor-rancor", por conta das suas letras pesadas e ásperas como "Página 13", "Vamos à luta" ou "Erva rasteira", também gravada por Gonzagão em 1968. Com os ventos das mudanças políticas no agonizante e falido regime militar, a alcunha de rancor foi mudando. A esperança foi adentrando nas letras inspiradoras do ''moleque''. O começo dos debates sobre a abertura política na segunda metade da década de 1970 deu um tom mais lírico às suas canções, como "Começaria tudo outra vez", "Explode coração", "Grito de alerta", e temas de samba-enredo, como "Nem o pobre nem o rei", "O que é o que é" e ''Com a perna no mundo''. Era um Gonzaguinha esperançoso por dias melhores.
Em 1975, tornou-se um artista independente, dispensando os empresários:
- Achei que devia retomar toda uma espontaneidade em termos de apresentação, de estar no palco como se estivesse em qualquer outro lugar.
Em 1986, funda o selo ''Moleque'', pelo qual chegou a gravar dois trabalhos: "Corações Marginais" (1988) e "Luizinho de Gonzagão" (1990).
Nos últimos doze anos de vida, Gonzaguinha viveu em Belo Horizonte com a segunda mulher Louise Margarete Martins (Lelete) e a filha Mariana. Com a vida mais calma, com passeios de bicicleta na lagoa da Pampulha, marcava um período mais introspectivo de sua carreira. O músico dedicava-se a pesquisar novos sons entre as demoradas turnês de shows e longos períodos em casa.
Falando em shows, uma das suas turnês mais importantes foi ''Vida de Viajante'', durante o ano de 1981, ao lado do pai Luiz Gonzaga. Não era apenas uma apresentação de dois artistas intocáveis na história da música. A apresentação ''Vida de Viajante'' selava a paz, entendimento e o reencontro de pai e filho e fazia o Brasil do baião e do sertão sair de braços dados com o Brasil urbano. Um marco na MPB.
Infelizmente, após um show na cidade de Pato Branco/Paraná, Gonzaguinha foi vítima de um acidente automobilístico com seu Monza, quando dirigia entre as cidades de Renascença e Marmeleiro, rumo à Foz do Iguaçu. Era uma manhã de 29 de abril de 1991. Tinha apenas 45 anos.
Gonzaguinha era um poeta contemporâneo de sentimento raro. Abordava a alma feminina de uma forma completa. Através da palavra, desnudava o universo da mulher. Ele tinha a sensibilidade à flor da pele ao falar do suor masculino na explosão do seu noturno clímax. Ao violão, sua posição política era a liberdade. A música brasileira aplaudia um compositor de apelo popular, precisão e coragem.